Se houvesse um jogo inspirado no trabalho do autor Aldous Huxley, State of Mind seria esse jogo. A nova proposta da Daedalic Entertainment é provocadora, levanta questões interessantes, e perdura no pensamento mesmo depois de terminado.
State of Mind aborda temas como utopias, distopias, e trans-humanismo, e embora possa parecer algo presunçoso quando é descrito desta forma, a verdade é que o jogo da Daedalic consegue apresentar estes temas de forma muito profunda e pensada, envoltos numa história de grande qualidade enriquecida pelo trabalho dos atores. Assistimos ainda à abordagem de temas como ciúmes, sensação de abandono, e separação, através do desmantelar de uma relação credível.
De forma mais direta, o objetivo em State of Mind é descobrir o que aconteceu à família do protagonista. Vão tentar encontrar e juntar as peças para este puzzles, que relata o que se passou antes e depois de um acidente de carro. Isto num mundo em que terroristas estão a tentar parar a dependência cada vez maior em máquinas. Em relação à história, contudo, não podemos dizer mais isto, ou podemos estragar pontos narrativos.
Quando começamos a jogar, vários filmes vieram-nos à memória, filmes como Blade Runner, Eu, Robô, e outros semelhantes, mas à medida que avançamos, começamos a desvendar o que é um mundo realmente muito bem construído e pensado, um mundo sombrio, mas rico em história e detalhe. Em pouco tempo estarão envolvidos numa conspiração, que vos irá levar a questionar tudo e todos enquanto assumem o papel de Richard Nolan, um jornalista através do qual vão explorar as muitas camadas que formam este mundo.
Amargurado com a cidade em que vive, uma versão distópica de Berlim, Richard Nolan vê-se envolvido num acidente de carro que muda as suas prioridades. A sua vida familiar está destroçada, e de imediato somos arrastados para o seu casamento falhado, sem saber onde estão agora a sua mulher e filho. Embora prometesse uma carreira promissora enquanto jornalista, ao ponto de ter ganho um Pulitzer quando era novo, a verdade é que desde aí, a sua carreira tem sido sempre a descer.
A vida não está fácil para Richard, e é o contraste para o que se passa com outra personagem, Adam, que também esteve envolvido num acidente de táxi, e sobreviveu. Richard é a personagem principal de State of Mind, mas existem outras que vão controlar a espaços. Ainda assim, preferimos não revelar mais detalhes sobre este lado da jogabilidade.
O que podemos dizer é que compara a nossa realidade com a verdade. Olhar para um contraste entre a utopia de um mundo virtual, e o nosso, não é algo de novo, mas foi feito de forma original em State of Mind. É difícil construir mundos e personagens credíveis, mas a Daedalic tem o mérito de o ter conseguido.
O incómodo de Richard em relação a robôs é compreensível, mas contrasta com a perspetiva de Adam. A interação entre estas duas personagens, e o mundo ao seu redor, é interessante, apresentando pontos de vista diferentes, mas válidos. Uma palavra também para o estilo visual, muito peculiar, que apresenta modelos e cenários de boa qualidade. É um estilo gráfico que encaixa na perfeição com o tipo de experiência que State of Mind pretende transmitir. A isso juntem uma câmara competente na terceira pessoa, boas interpretações dos atores, e um trabalho de qualidade ao nível de efeitos sonoros e banda sonora.
Não esperem, contudo, uma jogabilidade de grande ação. Muito da experiência de State of Mind concentra-se em conversar com outras personagens, e interagir com objetos. Mesmo comparando com outros jogos narrativos, como os da Telltale, State of Mind tem menos ação e nem sequer apresenta o mesmo tipo de escolhas narrativas. É um jogo sobre explorar novas localizações e incentivar diálogos. Também existem alguns puzzles para resolverem, que envolvem cegar drones de segurança e outras ações semelhantes, mas os puzzles não são o ponto forte do jogo – a história sim, é.
State of Mind aborda temas como separação, confusão, e ansiedade, mas também apresenta alguns momentos belos e descontraídos, criando um equilíbrio muito eficaz no ritmo da aventura. Se procuram uma história surpreendente e adulta, com temas profundos, e um mundo que complementa essa história de forma muito positiva, State of Mind é facilmente recomendado.
Créditos , gamereactor – link original https://www.gamereactor.pt/analises/371543/State+of+Mind/?rs=rss